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No Rio de Janeiro, meninas desenvolvem a auto-estima e independência por meio do esporte
Thays Prado, publicado em 10/05/2019
O que significa ser uma vencedora? Para Adrielle Alexandre, que carregou a tocha olímpica aos 12 anos, não se trata apenas de se tornar uma ginasta rítmica olímpica, mas de tornar sua comunidade um lugar livre de violência e cheio de respeito. Ela esteve entre as 850 meninas que participaram da fase piloto do programam Uma Vitória Leva à Outra, em 2016.


“Eu aprendi com o esporte que temos que nos esforçar para ter sucesso. Não chegamos a lugar nenhum se ficarmos no mesmo lugar sem fazer nada ”, diz Adrielle Alexandre, uma jovem atleta de 15 anos do Rio de Janeiro, Brasil.

Pelo menos quatro vezes por semana depois da escola, Adrielle ia a uma Vila Olímpica - um dos 22 espaços públicos com instalações esportivas gratuitas administradas pelo município - para fazer aulas de balé, ginástica e pilates. Ela está entre as 850 meninas e jovens entre 10 e 18 anos, que fizeram parte da primeira fase do programa “Uma Vitória Leva à Outra”, um programa conjunto da ONU Mulheres e do Comitê Olímpico Internacional (COI), em parceria com as ONGs Women Win e Empodera. Duas vezes por semana, após a prática esportiva, ela participava de oficinas temáticas ministradas por uma equipe multidisciplinar de pedagogas, assistentes sociais e psicólogas, e aprendia sobre liderança e autoestima, saúde e direitos sexuais e reprodutivos, combate à violência contra mulheres e meninas e planejamento futuro.  Em sua primeira fase, o programa foi implementado em 20 Vilas Olímpicas da cidade do Rio de Janeiro, alcançou cerca de 850 meninas diretamente e se tornou um dos legados olímpicos dos Jogos Rio 2016.



Quase 50% de todas as agressões sexuais em todo o mundo são sofridas por meninas com 16 anos ou menos. Quando as meninas atingem a puberdade, elas experimentam mais marginalização e sexualização. Sua auto-estima cai duas vezes mais do que a dos meninos e sua imagem corporal é direcionada por estereótipos negativos. Durante a adolescência, 49% das meninas abandonam a prática esportiva – uma proporção seis vezes maior do que os meninos.

O programa “Uma Vitória Leva à Outra” usa o esporte como um meio poderoso para reduzir as desigualdades de gênero e dar às meninas ferramentas para desenvolverem habilidades para a vida e sua auto-estima. O programa também cria espaços seguros para as meninas - um primeiro passo crucial para engajá-las positivamente. “O esporte ajuda a melhorar a autoestima das meninas, suas habilidades de trabalho em equipe e as ensina a ter objetivos na vida. Essas coisas, combinadas com espaços seguros, encorajam-nas a aspirar e se desenvolver ”, diz Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil.



Carismática e talentosa na ginástica rítmica, Adrielle chama a atenção por onde passa. Ela foi escolhida para levar a tocha olímpica durante o revezamento em 2016. Myriam Fernandes, a avó de Adrielle, é uma de suas maiores fãs. “Nós nos sacrificamos muito para que ela pudesse continuar. Praticar esportes no Brasil como profissão não é um caminho fácil, especialmente para pessoas pobres. Tudo o que ela faz nos deixa muito orgulhosos. Eu sou muito grata por todas as oportunidades que ela tem tido, ” ela sorri com orgulho.

Adrielle aprecia os desafios e sacrifícios que ela e sua família tiveram que fazer para que ela pudesse seguir seus sonhos de se tornar uma ginasta rítmica olímpica. “Muitas vezes eu tive que desistir de brinquedos para economizar dinheiro para fantasias de ginástica, ou para pagar taxas para participar de festivais e competições. Às vezes eu não consigo fazer coisas que outras crianças na minha idade costumam fazer para continuar praticando esportes. Mas isso nunca me deixou triste. Eu me divirto e adoro esporte. ”

Para Elizabeth Jatobá, uma das facilitadoras do programa em 2016, “o ponto mais importante do projeto é dar a essas meninas um espaço seguro onde possam ser ouvidas. Eles podem expressar sua voz, nós as ajudamos a comunicar o que eles pensam, o que elas vivem e o que elas querem. ”

Uma lição que Adrielle aprendeu com o programa, que ela diz que mantém guardada em seu coração, é o significado de ser uma vencedora - no esporte e na vida. “Ser vencedora é tornar meus sonhos realidade, ajudar os outros e transformar minha comunidade em um lugar livre de violência e cheio de respeito”, diz ela.

Fotos: UNIC Brasil
 

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