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Uma Vitória Leva à Outra abre caminho para o desenvolvimento de habilidades e a conquista de emprego entre jovens que concluem o programa
Thays Prado, publicado em 14/05/2019
O programa conjunto da ONU Mulheres e do Comitê Olímpico Internacional já capacitou centenas de meninas, incluindo jovens mães, em comunidades do Rio de Janeiro. Algumas delas chegam agora ao mercado de trabalho com o programa como um diferencial no currículo


Em 2017, Dayane Santos, de 19 anos, participava de um encontro na Fundação Xuxa Meneghel (atual Fundação Angélica Goulart). Enquanto segurava sua bebê no colo, ouvia atenta às facilitadoras apresentarem um novo programa, Uma Vitória Leva à Outra, para capacitar jovens mães em sua comunidade por meio do esporte. Seus olhos se iluminaram quando ela percebeu que era sua chance de voltar às quadras.

Dayane abandonou a escola e deixou o vôlei depois que a filha nasceu e sabia que as oportunidades eram limitadas para ela em Pedra de Guaratiba, uma das comunidades mais pobres do oeste do Rio de Janeiro. No Brasil, quase um em cada cinco bebês nascem de meninas de até 19 anos[1], levando a uma alta taxa de abandono escolar. Três quartos das jovens mães com idades entre 15 e 17 anos estavam fora da escola em 2015[2].

Naquele mesmo dia de apresentação do programa, Dayane garantiu sua vaga.

Gerido conjuntamente pela ONU Mulheres e o Comitê Olímpico Internacional, em parceria com as ONGs Women Win e Empodera, Uma Vitória Leva à Outra fortalece a autoestima e o empoderamento econômico de meninas e jovens mulheres por meio de treinamentos semanais que envolvem atividades esportivas e o desenvolvimento de habilidades para a vida, em sessões conduzidas por facilitadoras treinadas na metodologia do programa. Financiada pela Swedish Postcode Foundation, uma versão adaptada do currículo foi criada para atender às necessidades específicas de jovens mães, incluindo espaço e cuidado para as crianças no local, durante a realização das aulas e sessões.

 

Programa com jovens mães provê espaço para crianças. Foto: Fundação Angélica Goulart
Programa com jovens mães provê espaço para crianças. Foto: Fundação Angélica Goulart

 

“No programa, tivemos a oportunidade de falar abertamente sobre nossas vidas como elas são hoje, depois de nos tornarmos mães”, explica Dayane. “O que mais aprendi foi sobre como ser eu mesma novamente. Percebi que podia conciliar a maternidade com os outros aspectos da minha vida e que não precisava ficar só em casa".

Comunicativa e corajosa, Dayane também ajudou outras meninas a aprender os fundamentos do esporte e a falar o que pensam. Por participar de forma bastante engajada nas atividades do programa e demonstrar excelentes habilidades de liderança, ela também foi convidada a co-facilitar sessões de habilidades para a vida em uma outra instituição implementadora, a Censotraco, servindo como um modelo de referência para meninas mais jovens.

Um ano depois de concluir o programa, Dayane já havia terminado o Ensino Médio. Agora, ela tem um trabalho em tempo integral e aprendeu a negociar melhor com o parceiro sobre a divisão de tempo entre os dois para os cuidados com a filha e os afazeres domésticos. Além disso, ela joga vôlei duas vezes por semana em um centro comunitário e quer estudar Radiologia. “O programa me deu confiança para perceber que eu poderia fazer o que quisesse”, diz a jovem.

A maioria das cerca de 850 meninas alcançadas pelo programa em sua fase piloto (de 2015 a 2017) tiveram mudanças de vida significativas.
 

O programa trabalha com meninas e jovens mulheres. Foto: Empodera O programa trabalha com meninas e jovens mulheres. Foto: Empodera 

Raphaela Lacerda, que se formou no programa em 2016 e participou das celebrações do Dia Internacional da Menina, na sede das Nações Unidas, em 2017, foi contratada no ano passado por uma empresa de cosméticos internacional que atua no Brasil como parte de sua equipe de pesquisa e inovação. Ela conta que ter as diversas atividades do programa em seu currículo profissional foram essenciais para a conquista da vaga.

“Participar do programa Uma Vitória Leva à Outra me deu maturidade para enfrentar meus problemas, conhecimento para expressar minhas ideias e coragem para lutar por meus sonhos. Foi uma das coisas que mais me ajudou a alcançar o que eu quero”, diz Raphaela. Ela ainda atua regularmente como voluntária em sua comunidade, coordenando reuniões para adolescentes de várias igrejas, onde fala sobre o empoderamento das meninas. "Eu tento demonstrar às meninas que podemos fazer o que quisermos e, aos meninos, que não somos menos do que eles em nada."

Raphaela ainda encontra tempo para jogar handebol duas vezes por semana em uma quadra comunitária. E ela quer mais. Enquanto vai e volta do trabalho – o que leva quase três horas todos os dias –, ela estuda para entrar na faculdade de Educação Física.

“O programa é muito eficaz na criação de oportunidades que, historicamente, foram negadas às meninas”, diz Jane Moura, presidente da Empodera, a organização parceira de implementação do programa no Brasil.

Em sua segunda fase de implementação, Uma Vitória Leva à Outra tem como foco expandir e diversificar parcerias, fortalecendo as capacidades de diversas instituições da sociedade civil para implementarem a metodologia e, assim, garantir que mais meninas tenham acesso não somente ao programa, mas aos benefícios que surgem a partir dele.

 

[1] DATASUS (2016). Ministério da Saúde do Brasil http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def

[2] Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) (2013). https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94414.pdf (conforme citado em http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/no-brasil-75-das-adolescentes -que-tem-filhos-estao-fora-da-escola.html)

 

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